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‘Eu vivo no agora’, diz Ringo Starr, que completa 85 anos e relembra trajetória musical

Baterista ex-Beatle desmente mito de que foi 'sortudo' por integrar a banda e aborda amizade com Paul McCartney

06/07/2025
‘Eu vivo no agora’, diz Ringo Starr, que completa 85 anos e relembra trajetória musical

NY TIMES

No verão de 1985, o amigo e também baterista de Ringo Starr, Max Weinberg, foi à Inglaterra para comemorar o 45º aniversário do ex-Beatle. Os dois haviam se tornado amigos cinco anos antes, nos bastidores de um show em Los Angeles, onde Weinberg tocava com Bruce Springsteen. Ainda assim, Weinberg permanecia um tanto intimidado por seu herói de infância. Ringo, sempre amigável, sugeriu: “Às vezes ajuda se você me chamar de Richie”.

Durante a celebração em Tittenhurst Park — a antiga propriedade de John Lennon nos arredores de Londres — Ringo disse a Weinberg, então com 34 anos: “Bem, Max, vou fazer 45 anos. Isso não faz você se sentir velho?”. A frase, espirituosa e cheia de ironia, tornou-se uma piada interna entre os dois, repetida anualmente.

Ringo Starr, que faz 85 anos nesta segunda-feira, é o primeiro Beatle a atingir essa idade. Como Paul McCartney, nunca se aposentou. Nos últimos meses, lançou um álbum country gravado em Nashville e excursionou com sua All-Starr Band, composta por músicos de grupos como Men at Work e Toto. Em um recente show no Radio City Music Hall, Ringo subiu ao palco com energia de um jovem, tocando sua bateria com entusiasmo.

Com seu humor característico, Starr comentou: “Olho no espelho e tenho 24 anos. Nunca envelheci além dos 24. Mas adivinha? Você envelheceu”. Ele fala sobre sua trajetória com a leveza de quem se diverte com a própria história. Conta que, mesmo sendo o único Beatle que não compunha músicas durante grande parte da existência da banda, nunca se sentiu menosprezado. Recorda-se com humor das primeiras vezes em que tentou compor e os colegas riam porque ele apenas trocava a letra de músicas já existentes.

Paul McCartney, ao falar sobre o amigo, afirma que Ringo é “o melhor baterista” com quem já tocou. “Ele tem uma sensibilidade que outros bateristas não conseguem alcançar. Ele é Ringo. E ninguém mais é.”

Durante dois shows no Ryman Auditorium, em Nashville, Ringo se apresentou ao lado de músicos de gerações mais jovens, como Billy Strings e Mickey Guyton. Ele impressionou a todos com sua disposição. “Ele estava fazendo polichinelos nos ensaios”, contou a guitarrista Molly Tuttle, de 32 anos.

Ringo relembrou sua infância difícil em Liverpool. Filho de um lar desfeito, sofreu peritonite aos seis anos e tuberculose aos treze, o que o levou a passar dois anos em um sanatório. Lá, teve o primeiro contato com instrumentos de percussão. Dali em diante, decidiu que queria ser baterista.

Ele começou a tocar em bandas locais de skiffle e depois integrou os Rory Storm and the Hurricanes. Foi durante apresentações em Hamburgo que conheceu os Beatles, que o convidaram para integrar o grupo. “Foi um golpe de mestre para os três”, diz Weinberg.

Apesar de críticas que minimizavam sua importância na banda, Ringo provou ser essencial. Suas composições como “Don’t Pass Me By” e seu estilo de tocar marcaram a sonoridade dos Beatles. Segundo T Bone Burnett, “não há baterista inglês que toque um shuffle como ele”.

Hoje, Ringo vive uma vida mais tranquila com sua esposa Barbara Bach. Mora em Los Angeles e diz que não sente falta da atuação no cinema. Está focado em tocar ao vivo e gravar. Recentemente, se encontrou com o diretor Sam Mendes, responsável por cinebiografias sobre os Beatles, e será interpretado pelo ator Barry Keoghan.

A relação com McCartney, com quem dividiu décadas de palco e amizade, se fortaleceu com o tempo. “Percebemos que nada dura para sempre. Então nos agarramos ao que temos agora. É algo que ninguém mais tem. Somos apenas eu e Ringo”, disse McCartney.

Na noite anterior à entrevista, Starr havia estado com McCartney. “Eu vivo no agora”, disse. “Não planejei nada disso. Eu amo essa vida que me é permitido viver.”